Colégios privados, a história do saque ao Estado!?
Precisamos de perder o medo de ser politicamente incorretos e falar das coisas como elas são. Politicamente correto é ser contra os contratos de associação; politicamente correto é encher a boca e dizer que os colégios privados estão a saquear o Estado (leia-se, o Estado somos nós todos); politicamente correto é erguer a voz ao lado do Bloco de Esquerda que faz declarações e campanhas inflamadas nas redes sociais.
Vamos ver uma coisa, a escola, a educação, deve ser uma responsabilidade do Estado? Deve, claro e nem por um segundo se coloca isso em causa. Mas, quantos dos que estão a ler este texto passaram por uma escola pública ou têm os filhos a estudar numa escola pública? Agora, desses, levante o braço quem nunca teve uma nota administrativa por falta de professor ou pode contabilizar o prejuízo na sua educação e na dos seus filhos provocado pelas greves de professores?
É preciso não esquecer que as escolas públicas e alunos destes estabelecimentos são ainda afetados quando há greves da Função Pública, onde se inserem os funcionários. E quando faltam funcionários auxiliares, as escolas fecham.
Façam as contas a situações dessas nos colégios privados. Se as há, são mais difícieis de encontrar.
Há maus projetos de escolas privadas? Certamente que sim, mas quando os pais deixam de colocar lá os filhos, fecham portas. Numa escola pública, quando há alguma razão de queixa, a imensidão burocrática desincentiva qualquer um a fazer queixa.
Não sou, nem nunca fui, um defensor do colégio privado. Nem sequer os frequentei. E faço uma vénia às pessoas que são "os professores" do público. Mas sei bem as oportunidades que perdi, quando olho para o lado, para os amigos que tiveram "a sorte" de frequentar um privado. Fiz o meu caminho, pela via mais difícil, tive sorte e uma força de vontade em seguir pelo caminho mais acertado, mas, por norma, não é isso que sucede em situações como a minha.
Gerir um sistema de ensino com projetos de 4 anos. Alguém com bom senso acredita que isto é uma solução?
Claro, podem dizer, também há alunos de colégios privados que desperdiçam as oportunidades de uma vida. Mas vamos focar nos factos. As excepções confirmam a regra.
Eu, como um dos elementos que faz parte de uma sociedade, de um Estado, gostava de ter a oportunidade de escolher a escola onde quero que a minha filha estude. E se, no final das contas, se chegar à conclusão que tudo escolhe as escolas privadas, talvez esteja na hora de reconhecer que a escola pública está doente.
A guerra constante dos sindicatos, mais preocupados com "a luta" (que ainda não se percebeu bem qual é) do que com a educação das crianças, é um vírus e não uma cura. Os sidicatos, ao longo dos anos, neste caso o dos professores, têm medo de perder o poder e arrastam consigo tudo e todos. Regra geral, pouco mais fazem do que desestabilizar. Na educação não tem sido diferente.
Na verdade, quando uma classe não tiver razão para se queixar, os sindicatos perdem sentido, verdade? E, feita esta afirmação, pensada, há que esclarecer o seguinte: sou totalmente a favor da existência de um sindicato, de uma união que defenda os reais interesses de quem trabalha, mas não no formato atual.
Hoje, estas organizações não têm ideias novas, vivem apenas com um sentido e, pelo que se tem visto, não é o sentido que interessa aos profissionais que descontam para lá do seu salário. E, no caso da Educação, muito menos é favorável a quem mais sofre com isto, as crianças. Por arrasto, o futuro do país.
Há, no ensino público, professores com qualidade bastante superior, tal como há professores com menor qualidade no ensino privado.
Uma escola onde dois irmãos gêmeos são confundidos nas matrículas e nas avaliações e quando a mãe chama a atenção, os papéis de inscrição "perdem-se"? Um sistema que não tem como ajudar esta mãe, onde todas as queixas se arrastam por anos, prejudicando todo o processo de desenvolvimento das crianças? Onde estão os sindicatos ou as instituições quando esta mãe (que vai permancer anónima) viu as suas queixas bater contra uma parede?
Quando ouço o BE, pela voz de Joana Mortágua, mais uma vez, num vídeo inflamado, e cheio de apelos ao povo para pegar nas forquilhas e perseguir os colégios privados, pergunto: Já foi feita uma análise decente às condições de ensino público? Estão a lutar para que se acabe de vez com a chantagem dos professores (leia-se, sindicato) feita com prejuízo das crianças?
Pegando nas frases de Joana Mortágua, que foi à história para tentar explicar como surgiram os contratos de associação, eles nasceram para fazer face às falhas do ensino público. O problema é que essas falhas continuam e não têm uma solução à vista. Não se trata apenas de haver ou não uma escola pública por perto. Os vícios, como todos sabemos, demoram a acabar.
Entendam-se no Parlamento com acordos a longo prazo para áreas cruciais como a Educação, a Saúde, as Finanças Públicas...
Concordo com o argumento do Estado não subsidiar uma escola privada quando há uma alternativa pública. Mas é preciso definir o que se considera alternativa. Acabar com estes contratos de associação, sem esta análise prévia à qualidade do ensino, será dar mais força às medidas de coação que são feitas anualmente tendo como escudo as crianças, os alunos do ensino público, os filhos dos contribuintes.
Porque pior do que o Estado investir dinheiro para um aluno poder frequentar o ensino privado, é investir mais do dobro para ter os alunos numa escola em greve constante. Podem baixar as forquilhas e os archotes, porque se há profissão que considero de mérito, nobre, é a de professor. Mas, sejamos honestos, nem todos os professores têm a nobreza para a exercer.
Há, no ensino público, professores com qualidade bastante superior, tal como há professores com menor qualidade no ensino privado. Mas há uma diferença, quando não serve, é substituído e não se mantém a fazer um ensino medíocre, deixando à sorte os alunos que têm o azar de lhe calhar! Quantos alunos ficaram com o destino traçado à conta de uma formação inferior, quando comparado com o colega da turma da sala ao lado?
Por isso, defendo que deve haver controlo e não um despejar de dinheiro nos colégios privados, mas deveria haver opção. Pelo menos enquanto o sistema de ensino público não estiver ao nível desejado para a formação das crianças.
Tal como noutras áreas, se o Estado não tem pessoas capazes para gerir o Ensino, entreguem essa gestão a quem saiba e exijam qualidade e rigor. A quem saiba preparar as crianças de hoje para o futuro, para profissões que ainda estão por inventar.
Talvez a luta deva começar por aí. Mas é só uma ideia para o PCP, Bloco de Esquerda e Partido Socialista. E, já agora, para todos os outros partidos que já foram ou aspiram a ser governo. Entendam-se no Parlamento com acordos a longo prazo para áreas cruciais como a Educação, a Saúde, as Finanças Públicas...
Este é um tema que me atinge ainda mais por ter uma filha a iniciar o seu percurso escolar. Como qualquer pai, ou mãe, anseio para que consiga ter uma formação escolar com qualidade. Mas cada vez que tomo contacto com a realidade da escola pública, fico com arrepios e vem-me à memória tudo aquilo que passei, há mais de 30 anos, e que ainda hoje ensombra o ensino em Portugal.
Falta de professores, professores que metem baixa e deixam turmas inteiras sem substituto durante todo o ano, planos de educação que acabam por permitir turmas com excesso de alunos, com cargas horárias demasiado altas, sem tempo.
A única coisa que posso fazer é trabalhar par ter opções para a minha filha e exigir, porque como cidadão tenho esse direito, aos políticos, aos deputados da Assembleia da República que se entendam num projeto a longo prazo para a Educação e outras áreas cruciais.
Deixem de lado a politiquice a os discursos de beira de estrada. Da esquerda à direita, acabem com a sede de poder e coloquem o esforço ao serviço dos cidadãos (este termo inclui homens e mulheres, como e definido na língua portuguesa).
Gerir um sistema de ensino com projetos de 4 anos. Alguém com bom senso acredita que isto é uma solução?
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