Afinal, gostamos de regimes totalitários?
Vamos imaginar que sou um extraterrestre. Que, ao contrário do que sucede nos filmes de Hollywood, aterro em Portugal e não nos EUA. Ao olhar para aquilo que se passa, estudando a espécie, a conclusão seria que o povo português, pela voz dos partidos políticos eleitos para a Assembleia da República, defendem um regime totalitário.
Todos dizem o mesmo, sem maioria absoluta é impossível formar um Governo. Creio que, depois de ouvir isto, nada mais vale a pena ouvir. Percebe-se que as figuras que nos entram pela televisão diariamente, a qualquer hora, apenas pensam no poder. Apenas querem fazer aquilo que lhes interessa em vez de apostarem em estratégias de consenso que façam levar a bom porto as medidas que melhor servem o país e os portugueses.
A Assembleia da República merece que os partidos a respeitem, trabalhando para consensos que sirvam os interesses dos portugueses!
"Eles fazem o que querem", bradaram por centenas de vezes os partidos da oposição durante estes últimos quatro anos em relação às medidas do Governo. Pois bem, agora têm a possibilidade, e foi isso que estas eleições ditaram, de unir esforços para conseguir consensos. Mas aquilo que se tem assistido é apenas a política do típico "bota abaixo". Porque instabilidade é o que faz garantir lugares na Assembleia da República.
Chega! O país deve estar em primeiro lugar e se há coisa que não quero voltar a ter é um regime comandado por alguém que me impede de ser livre. Por isso, fico chocado sempre que ouço as pessoas de partidos como o Bloco de Esquerda, o PCP ou o PS, defenderem que só com a maioria absoluta pode haver um Governo.
À coligação com maioria, compete apresentar propostas que reunam consenso com o PS e, porque não, com os partidos mais à esquerda? Afinal, também foram eleitos e os votantes têm direito a ver representadas algumas das suas vontades.
Eu repito, se é para ter um Governo totalitário, acabe-se com a Assembleia da República pois não serve para nada. Perdem horas a discutir propostas que irão ser votadas. E já todos sabem como acaba a votação: se for proposta do Governo absoluto, é aprovada, se for da oposição, chumbada.
Não tem de ser assim. Há um meio termo que serve o país, que serve a democracia. Entendam-se e façam aquilo para que foram eleitos. Defendam a democracia, os portugueses, o país!
Nem a coligação que teve a maioria nas eleições tem de governar com as políticas da oposição, nem a oposição tem de acatar as políticas da maioria. Há, certamente, o meio termo ideal. Assim haja vontade em fazer pelo bem público deixando de lado a sede pelo poder.
Somos latinos, temos sangue quente, como ouvi ontem Pedro Santana Lopes afirmar na televisão, mas acredito que é possível um consenso à semelhança do que se passa na Suécia ou até na Alemanha onde, ideologias diferentes conseguem trabalhar numa união governativa.
Para quem se questiona sobre a maioria formada pela soma dos partidos à esquerda, creio que há consenso quando se coloca em dúvida uma união entre partidos que durante toda a campanha se atacaram e criticaram tão ferozmente. Ainda estamos em democracia e são os votos clarificados que valem. Porque existe a dúvida: será que quem votou no Bloco de Esquerda e no PS, votaria da mesma forma se soubesse que iriam governar em conjunto?
Por isso, se não for por mais nada, salvem a Assembleia da República!