Nesta reta final da campanha eleitoral, já para não falar da total ausência de ideias claras, os líderes dos partidos tentam manter a cabeça à tona. Passeiam em ombros, fazem discursos com ar de quem está a sentir um orgasmo quando a frase preparada sai na perfeição. Limitam-se a criticar a crítica que o opositor fez à sua crítica...chega!
Mas o pior de tudo isto, quando tentam, desesperadamente, chamar a si o voto dos indecisos, dados pelas sondagens como os poderosos que podem decidir o rumo de Portugal, são os fantasmas das coligações possíveis pós-eleições.
Do lado da coligação que atualmente é Governo, a PàF (Portugal à Frente), já se sabe que, em caso de vitória, irá governar PSD e CDS. À esquerda, onde António Costa tenta colar o PS (sim, tenta colar porque, na verdade, terá de governar com austeridade, caso queira manter os compromissos com os parceiros europeus), as dúvidas passam pelo nome do partido com quem os socialistas terão de se coligar para conseguir governar. E aí, como se tem visto, não será fácil.
Diariamente, tanto a CDU como o Bloco de Esquerda mantém um ataque cerrado a António Costa. Quase mais cerrado do que fazem à coligação. É a vontade do poder! "Quem tem de ceder é o PS", assegura Jerónimo de Sousa. "O PS é a desilusão destas eleições", acusa Catarina Martins.
A dúvida mantém-se, a campanha ajuda os indecisos a decidir ou a continuar indecisos?
Afirmações que chegam, e sobram, para ajudar a clarificar os indecisos que, com uma eleição do PS (sem maioria, pelo menos) o país irá ficar "à deriva", à mercê de vontades partidárias pós-eleições. Por outro lado, do ponto de vista de discurso político, o Bloco de esquerda cola o PS às medidas de austeridade e aos compromissos existentes.
Por isso, aquilo queo PS pede, a poucos dias do fim da campanha eleitoral, é uma maioria absoluta que evite ter de contar com os partidos à esquerda para conseguir consensos de governação.
Sabendo disso, Passos Coelho antecipa e lança o fantasma da instabilidade, caso também a coligação PàF vença sem maioria, graças à força de bloqueio à esquerda. O que continua sem se perceber é a razão de não haver, desde já, vontade em governar, mesmo sem maioria, a bem do país, a bem do futuro, com pactos de regime nas áreas fundamentais.
Porque, o que se sabe, com toda a certeza, é que com a mudança de Governo (nem sequer se pode afirmar apenas em caso de mudança de partido no Governo) haverá mudanças radicais, um riscar com as medidas anteriores em áreas cruciais como a educação.
E tudo isto porque a eleição é para o Governo mas também para a Assembleia da República onde os deputados irão votar sempre a favor do partido que representam. Sem hesitação e sem questionar. Seria diferente se o voto na AR fosse livre. Sim, a instabilidade governativa também poderia ser uma realidade. Ou, quem sabe, os governos tivessem de levar medidas bem estruturadas e que realmente fossem aceites por uma maioria parlamentar. Mas os deputados são eleitos para cumprir o seguidismo do líder partidário e não para o bem do país!
A dúvida mantém-se, a campanha ajuda os indecisos a decidir ou a continuar indecisos?
Faltam, precisamente, nove dias para uma das eleições mais importantes nos últimos anos. Portugal está a tentar recuperar de uma crise, inserido numa Europa em crise, económica e social, e aquilo a que os portugueses assistem durante a campanha pouco mais é do que politiquice.
Conversa e tempo de antena (obrigatório) para se passar mensagens que ficam no ouvido mas que, na prática, e em governação, de nada servirão ao país. Temos má política, maus políticos e um povo que ainda não sabe qual o rumo que quer para o país. O nível de desinteresse dos portugueses nas eleições poderá levar a uma percentagem de abstenção que, na prática, será superior ao número de votos que vai eleger a totalidade de deputados.
Em 2011, a abstenção, pessoas que não foram votar, subiu até aos 41,1%. Quase metade da população eleitora. É o mesmo que dizer que a decisão governativa ficou na mão de metade da população em condições de votar.
Ou seja, traduzido em números, os destinos de Portugal foram traçados por um total de 2.813.729 eleitores (2.159.742 no PSD e 653987 no CDS).
Muitas das pessoas que se abstêm, criticam as decisões governativas.
Desistir, ou deixar o país sem rumo, será algo impensável, e por isso defendo que cada português deve apostar nas propostas em que mais acredita. No entanto, para os que pensam em abster-se, talvez a melhor forma de mostrar insatisfação seja o voto em branco.
Vão lá colocar o papelinho, mas a dizer "não gosto nem concordo com nenhum de vocês!"
No entanto, bom seria que estes votos em branco elegessem lugares vazios na Assembleia da República. Talvez desta forma os políticos percebessem que precisam de mudar.
Votar num partido, apenas porque não se gosta de outro, ou simplesmente porque não sente simpatia por um candidato, não parece ser a melhor opção. Em causa está mais do que gostos, ao estilo do Facebook.
Por esta razão, o chamado voto útil, que os candidatos tentam chamar para si, aproveitando o descontentamento dos eleitores pode vir a ser decisivo nestas eleições. Há uns anos, o Bloco de Esquerda apresentou-se e ganhou força graças à adesão dos descontentes. Com o passar dos anos, o partido perdeu parte desta força.
Por isso, sem réstia de dúvidas, a decisão será entre a coligação (actual Governo) e o Partido Socialista. O PS, apesar de estar a tentar puxar mais à esquerda, está incapacitado de governar à esquerda face aos compromissos que Portugal tem na Europa e com os investidores. Por isso, seria últil puxar a CDU ou o BE para uma coligação pós-eleições. Mas, tendo em conta esta incapacidade, os indecisos poderão fugir de dar o seu voto a um partido que, no fim do dia, irá governar com medidas muito semelhantes com as tomadas pela coligação nos últimos quatro anos.
O que se pede aos eleitores portugueses é que escolham entre um mal já conhecido e um mal que (admitindo ser diferente da última governação do PS, de José Sócrates) não se sabe para onde vai levar o país!
É uma decisão difícil e por isso todos deve participar nela, conscientes de fazer uma escolha que beneficie o país.
Quando se olha para uma imagem destas, sem contexto, até parece que o pai está a nadar tranquilamente com o seu bebé. Não está, é um refugiado Sírio a tentar salvar a sua vida e a do seu filho. Este, certamente conseguiu chegar a terra, dezenas, centenas de outros, ficaram pelo caminho.
A imagem choca, faz-nos pensar, imaginar sermos nós próprios, com os nossos filhos, a tentar fugir de uma guerra insana. É impossível não ficar comovido com a quantidade de sensações que nos percorrem o corpo, que nos provocam ansiedade só de imaginar estar naquela situação. São estas emoções que levam a estender a mão a quem precisa.
Parece óbvio pensar que ninguém iria recusar ajuda a pessoas com necessidade. Mas, se assim fosse, não haveria pessoas com dificuldade a viver nas ruas em Portugal, ou noutros países da Europa, onde se multiplicam as discussões sobre ajudar vs fechar as fronteiras.
É quase impossível, neste tema, pensar sequer que pode haver discussão. Mas há! Há quem esteja assustado com a chegada dos sírios à Europa. Há quem receie uma nova invasão dos mouros.
As pessoas que tendem em criticar a ajuda, que defendem o encerramento das fronteiras, a construção de muros e barreiras, que parecem ignorar o sentimento de repúdio quando vêem uma imagem de um bebé afogado nas margens de uma praia, são, talvez, as mesmas que, por vezes até incosncientemente, contribuem para a falta de ajuda daqueles que nos estão mais próximos. Mas não são as únicas, mesmo os que criticam quem está assustado com a chegada dos refugiados, os mais emocionados, esquecem-se de olhar em volta.
As coisas não são assim tão simples. Ou por outro lado, poderiam ter uma solução mais simples. Pegamos no argumento de que existem casa vazias, disponíveis para receber refugiados. Porque razão não se consegue ter casa para centenas de pessoas que dormem na rua, que não têm o que comer ou dar aos filhos?
Estão aqui, a dormir no jardim, a afogar-se na agonia, no lixo, nos seus próprios dejetos.
Passamos por eles, desviamos o olhar, ficamos incomodados com o cheiro, fechamos a janela do carro nos semáforos onde os vemos a pedir esmola. Deixamos que se afoguem que na sua própria desgraça. E nem vou entrar na discussão dos que vivem assim porque não querem de outra forma...
Devemos ajudar quem vem de fora, mas devemos olhar também para quem está cá dentro. Há muita gente em Portugal que tem o seu salário, que paga as suas contas e que ainda tem a "obrigação" de pagar a renda, a alimentação, de pais, irmãos, que tem de pagar os passes dos sobrinhos, senão não têm como ir para a escola, os livros, o material escolar. Dinheiro que poderia servir para uma poupança, para fazer face ao futuro (ao seu e dos seus próprios filhos), mas que acaba por ter de servir para ajudar quem está mais próximo. Se recusarem fazer isto, empurram a família para uma vida de rua, sem abrigo. São estes que apoiam quem chega de fora.
Falamos de uma política para ajudar refugiados, mas precisamos de uma política para ajudar quem precisa. Uma política nacional, mas, acima de tudo, uma política europeia. Os estados precisam de gastar dinheiro nesta ajuda, este valor tem de ficar de fora das obrigações de cumprimento de déficit. Deve haver uma verba para ajudar quem precisa.
É urgente uma sociedade que não feche os olhos. É complicado, dirão alguns, controlar os barcos com refugiados, seguir o rasto dos traficantes que os colocam em situações de risco. Mas temos satélites que conseguem perseguir um qualquer Bin Laden e bombardeá-lo a milhares de quilómetros de distância.
A história um dia o dirá. Será que em algum calabouço, alguém está, diariamente, a ver em ecrãns gigantes, imagens emitidas por um satélite de pessoas a partir de barco em direção à Europa, a esbracejar por ajuda, a ver crianças perderem a vida, sem nada fazer?
Para que fique claro, defendo que devemos ajudar quem precisa, os de cá e os que querem vir para cá. Controlo, segurança, claro. Mas será que não conseguimos receber em condições 10 ou 20 mil pessoas? Conseguimos, tal como deveríamos conseguir ajudar os milhares que por cá perderam a casa, que lutam diariamente para dar uma refeição minimamente digna aos filhos.
Dar aquele pacotinho de leite ao banco alimentar na altura da recolha de alimentos é bom, alivia a consciência, mas não chega.
E já agora, deixem de dizer barbaridades nas redes sociais. Muitos arrependem-se logo a seguir, mas o mal fica feito!
Com o início da escola, os pais, entuasiamados, registam tudo em fotografia e vídeo. Todos os passos, do acordar, ao vestir das batas, a mochila com os livros. Tudo bem guardado para mais tarde recordar. Mas, ao contrário do que acontecia há uns anos atrás, quando as fotografias eram limitadas, pois os rolos e as revelações eram caras, as fotografias são às dezenas, centenas!
Até aqui, tudo bem, pena tenho eu de não ter algumas das minhas recordações registadas em fotografia ou vídeo. Mas é preciso ter cuidado com a divulgação destas fotos nas redes sociais. Os pais, babados, orgulhosos dos seus filhos, querem partilhar com o mundo estes momentos de felicidade mas esquecem-se que estão a dar a pessoas maldosas dados preciosos.
Além de localizarem as fotos, fornececendo a escola onde os filhos andam, de os mostrarem, de eventualmente divulgarem horários e percursos, estão a colocar os seus filhos em risco. Não pretendo ser um maníaco da conspiração, as crianças têm de poder crescer, mas posso sempre tentar alertar para alguns dos perigos de colocarem estas informações na Internet.
O formato de debate, com os três canais de televisão a transmitir em simultâneo, teve por base uma espécie de relato desportivo. Um frente-a-frente onde os portugueses esperavam ver esclarecidas algumas questões, para perceber em quem apostar para a vitória nas eleições. Por aquilo que se ouviu, logo a seguir ao debate, da boca dos comentadores, "isentos", dizem, e pelo que se lê hoje nos jornais, a maioria atribui a vitória a António Costa.
Calma, vitória no debate.
Não vou entrar na mesquinhez de criticar o que disse Passos Coelho, ao tentar colar Costa a José Sócrates, ou na ausência de respostas claras, ou fuga, a perguntas muito concretas de António Costa. Mas não ouvi ninguém (perdoem-me se não ouvi tudo e todos), referir que quem se colou a Costa foi o próprio José Sócrates ao expressar o seu apoio ao atual líder do PS. Afinal, esta estratégia,serviu para quê?
Nem vale a pena falar dos erros factuais de António Costa sobre quem "chamou" a Troika.
Há muito tempo que é claro que a máquina do PS funciona muito bem, ao contrário da do PSD que tem pessoas que se assumem como partidárias a dar tiros no próprio pé nos espaços de comentário das televisões.
Por isso, acho que nenhum protuguês acredita que a máquina partidária do Largo do Rato não está por detrás deste "comunicado" de José Sócrates, no momento em que ele ocorreu. Acredito que temos de olhar para o futuro mas devemos manter os olhos no passado. É essa história que nos ensina e nos ajuda a evitar cometer os mesmos erros. Vamos esquecer e retirar do debate o que trouxe Portugal até ao ponto da chamada da Troika? Vamos esquecer que os partidos do Governo e o PS assinaram as medidas que estavam no memorando de (des)entendimento? Vamos esquecer que o Governo pode ter ido mais além do que a Troika exigia? Já agora, vamos esquecer as privatizações de empresas que nunca deviam ter saído da alçada do Estado?
Esquecer o passado só serve a quem quer esconder, a quem receia assumir os erros. É por essa razão que nunca devemos esquecer a II Guerra Mundial, o Holocausto. Foi um dos maiores erros da história e nunca deve ser esquecida, para que todos possam lutar contra medidas que levam a um repetir de eventos deste tipo.
Pouco ênfase se deu também, à pergunta que foi feita no debate sobre uma união de esforços dos dois candidatos para o bem de Portugal. Ambos fogem à pergunta de Adelino Faria. Mas os dois deviam ser forçados a dar uma resposta clara a este assunto. Afinal, depois das eleições, ganhe quem ganhar, o país, os portugueses, devem estar primeiro, acima de qualquer ego ou ideologia.
Quanto a vitória no debate, acredito que Passos esteve melhor na primeira parte, com ataques claros, deixando Costa reduzido ao seu meio-campo. Já na segunda metade, Costa veio dos balneários com outro fulgor e conseguiu superiorizar-se ao adversário. Não era futebol que queriam?
Quem vencer as eleições deve governar para o bem do país e não para seu proveito e dos amigos. A melhor solução para Portugal seria a celebração de pactos de regime claros em áreas cruciais. E nesse capítulo, nenhum dos candidatos quis assumir o compromisso, pedindo aos portugueses a confiança para governar sozinhos. E merecem?