A tinta corre, e vai continuar a correr sobre a tragédia de Pedrógão Grande. E corre porque a tragédia vende. Mas é preciso que toda esta tinta não deixe cair no esquecimento aquilo que realmente conta: o que vamos fazer para evitar que estas situações se repitam no futuro?
Todos sabemos o que tem ficado de fora das agendas políticas. Todos os anos ardem centenas de hectares de terrenos, pessoas vêem as suas casas e bens ameaçados, entramos naquilo que se convencionou chamar "a época dos incêndios". Ou seja, uma altura em que todos sabemos que vai arder, mas todos os anos mantemos a mesma estratégia: tratamos os bombeiros como heróis durante um par de meses e depois, volta tudo à sua vida. Entre garfadas do jantar vemos os desgraçados, de camisa aberta até ao umbigo, de mangueirita na mão num acto de desespero contra labaredas dantescas.
Desta vez, talvez seja diferente, tem de ser diferente. Mais de 60 mortos, mortes horríveis que ninguém quer sequer pensar em sofrer. Mas poderia ter sucedido a qualquer um de nós. Quantas vezes já passei por aquela estrada?
Estando de férias, a poucos quilómetros do local do incêndio, com as cinzas trazidas pelo vento a cobrir o carro, pergunto-me se eu e a minha família fomos simplesmente bafejados pela sorte. Por este país fora há dezenas de estradas onde o cenário é idêntico. Mato a cobrir as bermas, estradas onde mal passa um carro e que, se apanhado no meio de uma situação do género, pouco ou nada pode fazer. Experimentem fazer, por exemplo, o percurso até à aldeia de Piódão. Há pinheiros tombados sobre a estrada.
Escrevo este texto porque não resisto em dizer que há muito tempo há soluções que podem ser adoptadas para tentar minimizar uma catástrofe como a ocorrida em Pedrógão Grande. Os testemunhos que me chegam através das notícias que vislumbro, às escondidas da minha filha, que nos seus três anos já pergunta, "morreram meninos?" dão conta de uma sobrevivente que afirma ter sido encaminhada para aquela estrada pela GNR. Porque havia já estradas cortadas por causa do fogo.
A GNR deveria ter ao seu dispôr tecnologia relativamente barata que permitia ter uma visão das estradas (um simples drone) que teria evitado o encaminhamento destas pessoas para a morte que enfrentaram. Mas há muito mais a fazer.
Mais do que discutir esquerdas, direitas, governo ou oposição, temos o direito de exigir à classe política que se una para encontrar soluções. Que procurem especialistas, pessoas que já estão a desenvolver sistemas de deteção e previsão de incêndios. Que olhem para o que de bom se faz lá fora e montem um plano estratégico, que criem um sistema que permita mapear todas as zonas perigosas e montar sistemas de vigilância. Sensores que permitem alertar para a existência de um incêndio e calcular a sua possível evolução.
Não estou a inventar nada, são coisas que já existem. Os políticos (e não digo Governo porque a culpa não fica apenas com este), se não conhecem, contratem quem sabe. Não há dinheiro? Eu pergunto, quanto dinheiro vale uma só daquelas vidas perdidas na estrada da morte?
Quando se invadem jornais com as dificuldades financeiras, de se ter acabado com os vigilantes florestais, não posso deixar de pensar que um simples sensor, uma câmara de alta definição, pode cobrir uma área de floresta imensa e fornecer dados preciosos para encaminhar os meios de combate aos incêndios para o local certo.
Como jornalista, irei voltar a este tema, tenho de voltar a este tema, mas recordo aqui um vídeo de um grupo de jovens que, no final de 2016, apresentou um projecto que assenta precisamente neste conceito da prevenção de incêndios. Haverá mais, certamente!
Perdemos tempo a debater as imagens horríveis que as televisões mostram, as fotografias explícitas, os diretos frenéticos das televisões, o comportamento condenável de alguns jornalistas. Mas será aí que devemos focar a discussão?
Tal como nos lembramos de Santa Bárbara apenas quando troveja, também os bombeiros são recordados como heróis apenas nestes momentos. Depois, passam a ser novamente um grupo de voluntários, sem condições e que mesmo no papel de heróis precisam de mendigar por água, barras de cereais e material básico de primeiros socorros.
Não sou contra a ajuda da sociedade civil, mas acredito mais que nestes casos, o tal plano estratégico do Estado (que somos todos nós, cidadãos pagantes), deveria prever uma linha imediata de disponibilização de todo o material necessário aos bombeiros. E, é preciso não esquecer, estes heróis periódicos, são voluntários. Talvez não fosse demais dizer que a profissionalização seria também uma forma de dignificar os bombeiros, os tais heróis dos quais nos lembramos apenas quando há fogo.
Neste momento, sinto aquilo que qualquer pai ou mãe sentem quando se metem num carro para fazer uma viagem por uma das muitas estradas que continuam ladeadas de arvoredo e mato. E basta ir em direção ao interiror para isso suceder: Irei ter de enfretar o fogo ali à frente?
Há muito tempo que o futebol deixou de ser uma diversão. Um acontecimento para ver em família. Para aqueles que se esqueceram, ou nem sequer sabem do que falo, pesquisem por Leão da Estrela, no Google.
O futebol acende paixões, mexe com os sentimentos e faz emergir os instintos mais básicos da raça humana. Ao longo dos anos, temos assistido a verdadeiros massacres de vidas humanas provocados por pessoas que deveriam ser impedidas de circular na rua e, muito menos, ser autorizadas a entrar num estádio de futebol. Mesmo nos campos pelados.
Ontem, quando vi as imagens da agressão ao árbitro José Rodrigues aos dois minutos de jogo Rio Tinto-Canelas, da Divisão Elite da Associação de Futebol do Porto, só pensava na expressão canela até ao pescoço. É isso que tem sucedido com esta equipa de pessoas que se unem para trazer ao futebol aquilo que tem de pior. Equipas destas deveriam ser proíbidas de jogar. Estão ao nível daqueles miúdos que, em criança, os pais nos diziam: se o fulano jogar, vens embora!
E lá íamos, brincar, de bola debaixo do braço, a rezar para que o "fulano" não aparecesse em campo. E, quando o jogo aquecia, fazíamos tudo para tentar esconder dos pais os encontrões, os pontapés, as ofensas verbais. Não era anjinho, desde cedo aprendemos a conviver com o ambiente que nos rodeia, temos de nos saber defender.
Na escola, era habitual a realização de um campeonato de futebol. Entravam em campo os "agarraAki" e outras equipas cujos nomes eram herdados de ano para ano. Nas "bancadas", as raparigas compunham a claque, principalmente se em campo estivesse o Ronaldo da escola (na altura as estrelas eram mais maradonas e ainda eusébios). E não se trata de sexismo. Elas, simplesmente, não gostavam de jogar. Na minha turma, havia uma jogadora, e jogava!
Durante os jogos, multiplicavam-se os cânticos: "É canja, é canja, é canja de galinha, para vencer o 7ª B é preciso levar na pinha! É canja, é canja, é canja de perú, para vencer o 7º B é preciso levar no..."
Os fulanos tomaram conta do campo e eu recuso que me digam que o futebol é assim!
Por vezes, os ânimos exaltavam-se. Encontrões, ofensas verbais, e os árbitros (também alunos da escola) não escapavam aos ataques. Recordo-me de uma vez e que estava a arbitrar e de ter mostrado um cartão vermelho depois de uma entrada violenta.
Resultado, o agressor veio direito a mim e com um valente pontapé rasteiro deitou-me ao chão. "Tens a certeza que queres expulsar?" No chão, eu mais pequeno que o "valentão", ainda pensei em recuar. Afinal, estava a antever levar uma tareia de um fulano completamente descompensado. Mas, levantei-me e de pernas trémulas, apito na boca, ergui de novo o cartão!
Recordo que na altura valeu-me a intervenção de um grupo de outros rapazes que arrastaram o agressor para fora do campo. Mas mantive a minha decisão e, durante o resto do jogo, só pensava na tareia que ia levar à saída da escola. Porque é assim que funcionam os cobardes. Sempre foi assim e, por mais anos que passem, ainda é assim que funcionam.
Por isso, sempre que ouço falar dos árbitros, das agressões, das ameaças, daquilo que sofrem na pele, ainda me questiono como há quem aceite ser árbitro. E não é pelo salário! Eu, devo dizer, sempre que havia um jogo para arbitrar, depois daquele, fazia tudo para ser substituído no papel. Apesar de ter conseguido reunir uma tropa que me protegeu e impediu ser sovado por um grupo de inergúmenos na época, fiquei sempre com receio.
Nos dias de hoje, ainda fico perplexo com o facto de haver dirigentes, treinadores, pessoas com responsabilidade no mundo do futebol, a proferirem palavras que incentivam à violência no futebol sem serem punidas, corridas do futebol.
Mas, como jornalista, ainda me choca mais o facto destas afirmações terem espaço mediático. Tal como abomino os comentadores, horas sem fim nas televisões portuguesas, a esmiuçar um lance, a colocar nos árbitros a culpa dos resultados de jogos. Lances que, muitas vezes, deixam dúvidas mesmo quando vistos em câmara lenta, de diversos ângulos. Percebem que o árbitro tem de decidir em frações de segundo e apenas tem um ângulo de visão?
Os árbitros erram, são comprados? Não sei. Esse é um tema que a justiça do futebol deve tratar com rigor. Mas, a pressão dos adeptos deve estar focada neste ponto e não na violência em relação a pessoas de outros clubes ou árbitros!
Mas, apesar das palavras de indignação, ninguém faz nada e permite-se que grupos organizados tomem conta do futebol, dos estádios, que impeçam um pai de levar os filhos ver a bola! Agora, até na seleção nacional. Será que todos temos de pagar milhões por ano, gastos com a polícia mobilizada para "proteger" aqueles que promovem a violência no futebol?
Em Inglaterra, onde os hooligans fizeram escola, as medidas foram duras. Identificados e impedidos de se aproximarem dos estádios de futebol. Esta foi a única forma de minimizar as agressões e tumultos existentes no futebol. E cá, não se pode fazer o mesmo? Não se sabe quem são?
Não me interessa absolutamente nada o clube a que pertencem. Como disse, há muito que deixei de ter interesse em ir aos estádios por causa da violência. Fui, nos últimos anos, por questões profissionais. Mas dificilmente me arrastam para lá voluntariamente.
Não gosto de futebol? Gosto, e bastante! Mas abomino as cenas de violência a que se assiste. E não pensem que a violência está reservada apenas aos árbitros, adeptos ou jornalistas. Os jogadores de futebol também têm visitas das claques e precisam de manter as relações em níveis "elevados" de forma a garantir a sua segurança e da família.
O que acham de ver um grupo de bandalhos a agredir um pai, nas bancadas, perante o olhar de pânico do filho menor? Assisti a isto vezes demais nos jogos que fui cobrir. E não me refiro ao caso da criança que se urinou ao ver o pai agredido por um polícia. Porque, quando olhamos para este contexto, os jogos de futebol tornam-se numa batalha campal onde a nossa essência mais primata se impõe. Polícia ou adepto!
Nas imagens recentes do Canelas, a decisão do árbitro foi mais do que justificada. O agressor agarra o jogador adversário com a mão esquerda, pelas costas, e acenta-lhe uma direita na face. Não se tratou de lançar o cotovelo para trás como afirmou o agressor a um canal de televisão (para espanto de muitos) e replicado por comentadores. Terá havido alguma crispação verbal por parte do jogador do Rio-Tinto, pelas imagens não se percebe. Mas no futebol, este tipo de violência deve ser eliminada.
E, quanto à atitude de Macaco (nome que o jogador e capitão do Canelas exibe na camisola), falta referir que foi o primeiro a correr para o ábitro, dando-lhe um encontrão. Depois, sim, mais calejado nestas situações, tenta apaziguar os ânimos. Mas não impediu que o colega de equipa espetasse uma joelhada na cara do árbitro, provocando a fratura do nariz.
Desta vez, talvez seja feita justiça. O jogador foi corrido do clube, mas será que as entidades competentes vão ter um olhar sério sobre aquilo que se está a passar no mundo do futebol?
Porque, como diziam os meus pais, os fulanos tomaram conta do campo e eu recuso que me digam que o futebol é assim!
Esta conversa começou por ser uma revelação daquilo que todos sabemos que acontece no Sistema Nacional de Saúde (SNS) e fazemos de conta que não existe. Ao melhor estilo da avestruz, que esconde a cabeça na areia. Mas tem de ser alargado perante a notícia que voltou a vir a público (a propósito da carta aberta escrita por uma aluna que não entrou no curso de medicina, a Marcelo Rebelo de Sousa) que dá conta da exigência dos alunos de medicina em relação ao suposto "excesso" de médicos em Portugal.
A geringonça, a coligação, ou aquilo que lhe quiserem chamar, está a chegar ao fim. Isso é um dado adquirido. Mas, mesmo assim, com a aproximação da apresentação do Orçamento do Estado para 2017, sucedem-se os atropelos a uma democracia saudável. Depois da intenção de taxar o sol, de afastar o investimento estrangeiro (com um novo imposto sobre imóveis), Mariana Mortágua acha por bem roubar quem está a acumular dinheiro, leia-se, a poupar.
Nos últimos dias, passada a onda de celebração da conquista do Euro 2016 aos franceses, e como a época de verão propícia o aparecimento de conversas deste tipo, surgiram ao estilo de notícia de última hora, informações sobre as pessoas que viajaram a convite de empresas para ver os jogos. Ao bom estilo português, "ofereceram-lhe uma viagem para ir ver a bola!"
Precisamos de perder o medo de ser politicamente incorretos e falar das coisas como elas são. Politicamente correto é ser contra os contratos de associação; politicamente correto é encher a boca e dizer que os colégios privados estão a saquear o Estado (leia-se, o Estado somos nós todos); politicamente correto é erguer a voz ao lado do Bloco de Esquerda que faz declarações e campanhas inflamadas nas redes sociais.