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Coisas da Vida

Sobre os refugiados

Crédito: Reuters/Alkis Konstantinidis

 

Quando se olha para uma imagem destas, sem contexto, até parece que o pai está a nadar tranquilamente com o seu bebé. Não está, é um refugiado Sírio a tentar salvar a sua vida e a do seu filho. Este, certamente conseguiu chegar a terra, dezenas, centenas de outros, ficaram pelo caminho.

 

A imagem choca, faz-nos pensar, imaginar sermos nós próprios, com os nossos filhos, a tentar fugir de uma guerra insana. É impossível não ficar comovido com a quantidade de sensações que nos percorrem o corpo, que nos provocam ansiedade só de imaginar estar naquela situação. São estas emoções que levam a estender a mão a quem precisa.

 

Parece óbvio pensar que ninguém iria recusar ajuda a pessoas com necessidade. Mas, se assim fosse, não haveria pessoas com dificuldade a viver nas ruas em Portugal, ou noutros países da Europa, onde se multiplicam as discussões sobre ajudar vs fechar as fronteiras.

 

É quase impossível, neste tema, pensar sequer que pode haver discussão. Mas há! Há quem esteja assustado com a chegada dos sírios à Europa. Há quem receie uma nova invasão dos mouros.

As pessoas que tendem em criticar a ajuda, que defendem o encerramento das fronteiras, a construção de muros e barreiras, que parecem ignorar o sentimento de repúdio quando vêem uma imagem de um bebé afogado nas margens de uma praia, são, talvez, as mesmas que, por vezes até incosncientemente, contribuem para a falta de ajuda daqueles que nos estão mais próximos. Mas não são as únicas, mesmo os que criticam quem está assustado com a chegada dos refugiados, os mais emocionados, esquecem-se de olhar em volta.

 

As coisas não são assim tão simples. Ou por outro lado, poderiam ter uma solução mais simples. Pegamos no argumento de que existem casa vazias, disponíveis para receber refugiados. Porque razão não se consegue ter casa para centenas de pessoas que dormem na rua, que não têm o que comer ou dar aos filhos?

 

Estão aqui, a dormir no jardim, a afogar-se na agonia, no lixo, nos seus próprios dejetos.

 

Passamos por eles, desviamos o olhar, ficamos incomodados com o cheiro, fechamos a janela do carro nos semáforos onde os vemos a pedir esmola. Deixamos que se afoguem que na sua própria desgraça. E nem vou entrar na discussão dos que vivem assim porque não querem de outra forma...

 

Devemos ajudar quem vem de fora, mas devemos olhar também para quem está cá dentro. Há muita gente em Portugal que tem o seu salário, que paga as suas contas e que ainda tem a "obrigação" de pagar a renda, a alimentação, de pais, irmãos, que tem de pagar os passes dos sobrinhos, senão não têm como ir para a escola, os livros, o material escolar. Dinheiro que poderia servir para uma poupança, para fazer face ao futuro (ao seu e dos seus próprios filhos), mas que acaba por ter de servir para ajudar quem está mais próximo. Se recusarem fazer isto, empurram a família para uma vida de rua, sem abrigo. São estes que apoiam quem chega de fora.

 

Falamos de uma política para ajudar refugiados, mas precisamos de uma política para ajudar quem precisa. Uma política nacional, mas, acima de tudo, uma política europeia. Os estados precisam de gastar dinheiro nesta ajuda, este valor tem de ficar de fora das obrigações de cumprimento de déficit. Deve haver uma verba para ajudar quem precisa.

É urgente uma sociedade que não feche os olhos. É complicado, dirão alguns, controlar os barcos com refugiados, seguir o rasto dos traficantes que os colocam em situações de risco. Mas temos satélites que conseguem perseguir um qualquer Bin Laden e bombardeá-lo a milhares de quilómetros de distância.

 

A história um dia o dirá. Será que em algum calabouço, alguém está, diariamente, a ver em ecrãns gigantes, imagens emitidas por um satélite de pessoas a partir de barco em direção à Europa, a esbracejar por ajuda, a ver crianças perderem a vida, sem nada fazer?

 

Para que fique claro, defendo que devemos ajudar quem precisa, os de cá e os que querem vir para cá. Controlo, segurança, claro. Mas será que não conseguimos receber em condições 10 ou 20 mil pessoas? Conseguimos, tal como deveríamos conseguir ajudar os milhares que por cá perderam a casa, que lutam diariamente para dar uma refeição minimamente digna aos filhos.

 

Dar aquele pacotinho de leite ao banco alimentar na altura da recolha de alimentos é bom, alivia a consciência, mas não chega.

E já agora, deixem de dizer barbaridades nas redes sociais. Muitos arrependem-se logo a seguir, mas o mal fica feito!

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