Será assim que funciona um inspector da ASAE?
Já por diversas vezes assisti a coisas dignas de registo e partilha com o mundo. É um gosto, uma dádiva da profissão. Mas, mesmo depois de ter estado frente a frente com pessoas como José Mourinho, Cristiano Ronaldo, políticos, economistas, líderes europeus, há sempre um "tuga" que consegue sobressair.
A história que relato de seguida tem como protagonista um alegado inspector da ASAE. Numa altura em que a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica celebra 10 anos de existência, assinalada com uma greve dos seus inspectores, esta história será só mais uma.
Esplanada, já depois da hora de almoço. Estou a terminar o bitoque, quando na mesa em frente se senta um homem, de óculos escuros, balão com whiskey na mão. Falava ao telefone. Conversa que não interessa, percebe-se pelo tom.
Passado uns minutos, ainda eu não tinha comido a última batata frita, chama o empregado, pede mais um whiskey.
- Quer gelo?, pergunta o empregado.
- Por obséquio, responde o homem.
Depois de servido, replica:
- Já chega senão o patrão saca-lhe do ordenado!, esboça um sorriso.
Não teve reação o empregado.
Entretanto, começa a conversa.
- Depois tem de dizer ao patrão que há umas coisas que têm e resolver, diz o homem, enquanto saca a carteira de uma malinha a tiracolo.
O empregado faz um ar como a perguntar, "coisas a resolver"?
- Sim, sou inspector da ASAE, (abre a carteira onde deve ter mostrado alguma espécie de identificação) e aquela tabela de preços que tem ali por cima está visível mas ilegível.
- Ah, está bem, vou avisar o patrão, diz o empregado.
- Sabe, para a semana vamos andar a fazer fiscalizalção nesta zona e prefiro avisar... além disso, continua o inspector, aquela vitrina de bolos tem de estar sempre fechada e está aberta.
Quando começou a enumerar estas coisas chamou-me mais a atenção. Afinal, qual seria o objetivo? Já tinha pago o whiskey.
- É que estou a formar um novo grupo inspectores e para a semana vêm para esta zona..., diz o alegado inspector.
- Sim, vêm cheios de vontade de mostrar serviço, responde o empregado.
- Pois, e chegam aí e olham para tudo!
O empregado, foi lá dentro dar as indicações às colegas que estavam atrás do balcão. Do lado de fora, o alegado inspector, baixa os óculos e fica a olhar para a conversa do empregado com as colegas. Uma delas fez um ar mais azedo, como quem diz, "ora, não tem mais nada que fazer?"
- O empregado regressa, para continuar a seu serviço e o inspector, que esteve o tempo todo a olhar por cima dos óculos escuros através da vitrine, não perde tempo:
- Ela não gostou, foi? Talvez goste mais quando levar com a multa e eu decida passar tudo a pente fino. Vou ver as luvas que não são usadas quando pegam no pão, as mesas empenadas, e isto se não me chatear e não for também lá dentro à cozinha!
- O empregado, sem saber bem como reagir, diz: - Pois, mas eu depois falo com o patrão sobre isso, para ele mudar as coisas!
Nem deu tempo de mais nada, o alegado inspector, pega no telefone, supostamente ligou para os colegas, e pergunta:
- Olha lá, para a semana, vão estar em que zona?
Do outro lado do telefone respondem algo que, obviamente, não ouvi.
- Onde?, continua o inspector.
- Então é assim, estou aqui num café, o (não interessa o nome), e quero que passem isto tudo a pente fino. Sim, sim, eu depois assino.
- Sim, estou aqui a beber um wiskey, vim avisar, fizeram má cara, agora passamos isto tudo e depois apresentamos o cheque. (devia querer dizer fatura, mas disse cheque).
Não sei se era mesmo um inspector da ASAE, não sei se haverá mesmo uma fiscalização ao estabelecimento, mas sei que não é assim que se deve agir. A ASAE é uma instituição importante para o controlo da qualidade, mas mesmo que fosse um inspector, este tipo de atitudes desgraçam toda uma classe.
É graças à ASAE que a qualidade do serviço, das coisas que comemos e bebemos melhorou mas, ao assistir a cenas deste género fica a dúvida: a inspecção funciona, ou são os esquemas que se sobrepõem?