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Coisas da Vida

A posse de Marcelo e a azia do BE

Marcelo Rebelo de Sousa

 

Continuamos a viver momentos verdadeiramente interessantes, do ponto de vista de análise política. Além dos temas que, no fundo, acabam por bater na tradicional frase "mais do mesmo" (nomeações, medidas contrárias ao que estava no Programa de Governo...) choca ver uma esquerda mais interessada na divisão do que na união.

 

 

Ao mesmo tempo que pedem a Marcelo Rebelo de Sousa uma presidência isenta de partidarismos, assumem uma postura de cisão ao tomar atitudes perfeitamente evitáveis, como o facto de não aplaudir as referências do novo Presidente a Cavaco Silva.

 

Cavaco, goste-se ou não do estilo, teve um contributo político importante nos últimos 30 anos. De acordo com o Census de 2011, há cerca de 4 milhões de portugueses com idades entre os 0 e os 35 anos. Este é o número de pessoas que nasceram, viveram e cresceram, alguns, eventualmente, votaram nas políticas de Cavaco Silva. Como primeiro-ministro e também com Presidente da República Portuguesa.

 

Depois, hás os restantes 6 milhões que assistiram a mudanças como o fim da Ditadura, às governações sucessivas, à importância de Cavaco Silva para a continuidade e reforço da democracia. Estes 30 anos não se avaliam num texto de blogue.

Provavelmente, iremos ter uma presidência de rutura com protocolos, rejeição de medidas antigas e com uma postura agressiva perante o que se vai passando no país.

Cavaco teve momentos maus, mas é injusto fazer uma avaliação negativa do seu contributo político. E, nesse sentido, como uma figura de Estado que é, merece o respeito de todos os parlamentares. Respeitar a figura de Cavaco Silva é, também, respeitar quem o elegeu democraticamente. O BE não pensa assim e deixa transparecer aquilo que sucederá a quem não está com eles, se for o Bloco governar!

 

Mas este é o dia de Marcelo. O novo Presidente, bastante criticado pela esquerda, logo após as eleições, promete colocar os interesses de Portugal acima de qualquer ideologia política. Esta é uma afirmação que todos aplaudem, e bem. Mas só por interesse partidário. Porque no dia em que Marcelo tiver de intervir, quando a união de esquerda começar a mostrar fragilidades, o interesse dos votos, na opinião do Bloco de Esquerda, terá mais valor do que o interesse máximo de Portugal no contexto europeu.

 

Com 67 anos, Marcelo Rebelo de Sousa continua a mostrar a sua preferência por uma presidência de rutura. Vai a pé até à tomada de posse, passeia pela rua e cumprimenta todos os que o interpelam, distribui beijinhos e simpatia.

 

Fechou este dia com um concerto de Mariza, a incontornável voz do Fado, e Anselmo Ralph (atualmente, o cantor angolano com maior projeção em Portugal), entre outros artistas. Também aqui, uma mensagem para Angola e para a importância que pretende dar às relações com o país presidido por José Eduardo dos Santos.

 

Marcelo distribuiu autógrafos pelas crianças que o rodearam durante a cerimónia. E sorria, como uma qualquer estrela popular.

 

Irá ser um presidente viajado, de forma a manter as relações externas ao máximo, ou irá ficar mais voltado para dentro, para o país onde nasceu e onde, no seu discurso, diz querer ver crescer os netos? Marcelo é o homem das férias no Algarve (já Cavaco o fazia), mas enquanto Chefe de Estado, tem um protocolo a cumprir.

 

Pelo que deu a entender, e perante o apoio que essas atitudes tiveram junto da opinião pública, provavelmente, iremos ter uma presidência de rutura com protocolos, rejeição de medidas antigas e com uma postura agressiva perante o que se vai passando no país.

 

Cavaco Silva não o fez, tem outro perfil. Cavaco fica conhecido pelo bolo rei, pela lamúria do valor da sua reforma e de Maria. Mas, foi mais do que isto!

Veremos como se irá sair Marcelo. Não é novidade mas, sem dormir, como consegue manter o corpo e mente saudável?

 

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